A Evolução da Vitivinicultura

O interessante site da Internet ― “Gastronomias de Portugal” ― apresenta uma esclarecedora e sintética seqüência da história do vinho a partir do Período Neolítico até o século XIX, e que vale ser aqui reproduzida.

  • 8000 a.C. – 7000 a.C. ― A presença de sarmentos nas cinzas de incineração mostram a presença de videiras em rituais fúnebres em Vilanova de la Vera, na Espanha. As uvas eram oferecidas aos mortos juntamente com outras oferendas. É provável que um vinho primitivo já fosse produzido.
  • 3200 a.C. ― Os sumérios já cultivavam as videiras. Já eram distinguidos os vinhos oriundos de planícies daqueles vinhos de encostas, estes de melhor qualidade, reservados aos religiosos e aos nobres. Os precursores dos gregos cultivavam as videiras em solos pedregosos e pobres. O vinho e o azeite eram importantes produtos comerciais.
  • 3000 a.C. ― Os sumérios de Kish, cidade da Mesopotâmia, utilizavam a escrita cuneiforme, denominados pictogramas, desenhos estilizados gravados em argila úmida com um estilete. Um dos pictogramas descobertos na região representa uma folha de videira. Em Ur foi encontrado um objeto, conhecido como o estandarte de Ur, que foi a primeira representação conhecida da degustação do vinho. No Egito, as videiras eram plantadas para produzir vinhos para o faraó e para uso em cerimônias religiosas ou fúnebres.
  • 2900 a.C. – 2152 a.C. ― No Egito dos faraós, desde as primeiras dinastias, era registrada a origem dos vinhos deixados nos túmulos. Uma urna do túmulo do faraó Pepi II, em Saqqarah, cita cinco vinhos: um do delta do Nilo, outro de Peluse, um de Létopolis, um outro vinho branco e um vinho tinto sem origem determinada.
  • 1750 a.C. ― O código de Hammurabi regulamentou, pela primeira vez, o comércio de vinho e indicou também as penas para os infratores:
    • Se um taverneiro não aceitasse grãos em pagamento de bebida, mas aceitasse dinheiro, ou se o cobrasse mais pelo fato de o pagamento ser feito em grãos, deveria ser condenado e punido.
    • Se conspiradores se encontrassem na casa de um dono de taverna, e não fossem capturados e levados à corte, o dono da taverna deveria ser condenado à morte.
    • Se uma mulher, mesmo se irmã de um deus, montasse uma taverna, ou mesmo se entrasse numa taverna para beber, deveria ser condenada à morte.
  • 1500 – 1400 a.C. ― Os fenícios inventaram a ânfora e a introduziram no Egito, onde existiam recipientes similares. O vinho era conservado nestas ânforas de argila, que apresentavam formas variadas. A ânfora grega tinha 40 litros, enquanto a romana apenas 25 litros. Os fenícios difundiram a ciência da vitivinicultura (cepas, poda, condução das videiras) na Síria, Palestina, Armênia e Cáucaso. Comercializaram o vinho em diversas regiões do Mediterrâneo, como Chipre, Creta, Egito, Argélia, Marrocos, Malta, Sicília, Sardenha, Córsega, Marselha e Espanha.
  • 1354 – 1345 a.C. ― Na época de Tutancâmon a rotulagem do vinho era tão precisa quanto hoje em dia, indicando o ano de colheita, a vinha, o nome do proprietário. Em seu túmulo foi encontrada quase intacta uma provisão de vinho. Das 36 ânforas encontradas, 26 estavam rotuladas com a procedência, o ano da safra e o nome do chefe dos vinhateiros.
  • 1300 a.C. ― Evidências do aparecimento de Dioniso, filho de Zeus. Diz a lenda que, raptado por piratas etruscos, este fez prova da sua divindade quando fez crescer uma videira miraculosa ao longo do mastro do barco, transformado os seus raptores em golfinhos.
  • 1250 a.C. ― Segundo Homero descreveu na Ilíada e na Odisséia, Ulisses levou nas suas viagens vinho da sua ilha Ítaca. Usou este vinho como sua arma secreta quando foi raptado na costa da Sicília pelo gigante ciclope Polifeno, oferecendo-lhe o vinho, que se apoderou do seu corpo e o fez adormecer.
  • 800 a.C. ― Já eram conhecidas diferentes formas de condução das parreiras. À época helênica, as videiras eram cultivadas em bermas na Itália, apoiadas em árvores na Grécia, e plantadas nas planícies das ilhas do Mar Egeu.
  • 672 a.C. ― Os gregos chegaram à Península Ibérica e desenvolveram a cultura das videiras e a fabricação do vinho.
  • 600 a.C. ― Pompílio, sucessor de Rômulo e rei de Roma, regulamentou a utilização do vinho. As mulheres e os homens com menos de 30 anos não podiam beber vinho. É desta época a mais antiga ânfora arrolhada com cortiça, de origem etrusca.
  • 590 a.C. ― nesta época, era costume se misturar o vinho com água. Muitas vezes usava-se água do mar. A diluição era necessária para servir muitas pessoas em reuniões que eram denominadas symposium. Também nesta época eram adicionadas ervas ao vinho para retirar maus odores eventuais.
  • 404 a.C. ― Foram realizadas as Primeiras Grandes Dionisíacas, principal festa do calendário de Atenas, no teatro construído especialmente junto à Acrópole. Primeira apresentação da peça “As Bacantes”, de Eurípides.
  • 400 a.C. ― Hipócrates, tradicional Pai da Medicina, deu ao vinho um papel importante nas suas prescrições. Utilizava-o contra a febre, como anti-séptico universal, como diurético e para acelerar a convalescença.
  • 270 a.C. ― Em Roma, o vinho assumiu um papel importante nas numerosas festas religiosas, denominadas Vinalia e as Liberalia, dedicadas a Baco. Mais tarde transformaram-se na  bacchanalia.
  • 264 – 146 a.C. ― Após as três Guerras Púnicas contra Cartago, com vitórias de Roma sobre os macedônios, os romanos perceberam o interesse econômico e cultural dos vinhedos, investindo em sua ampliação.
  • 186 a.C. ― As bacanais eram as festas dedicadas a Baco, que percorriam toda a cidade. Tiveram origem com as mulheres que prestavam a ele seu culto, as bacantes. O escândalo gerado levou à proibição pelo Senado das bacanais, com inúmeras prisões de adeptos do culto.
  • 128 a.C. ― A história mostra que o general Chang Chien, durante uma expedição à Pérsia, recolheu em Fergana sementes de videira e as levou à China. Recentes pesquisas, entretanto, sugerem que a Vitis vinifera pode ter chegado antes ao país, há cerca de 5000 anos.
  • 27 a.C. – 14 d.C. ― Durante a época de Augusto os vinhedos foram implantados em toda a Itália. A costa adriática alcançou uma produção considerável, permitindo as exportações para a Dalmácia, a Macedônia e a Grécia. Desde a sua origem, o cristianismo identificou-se como a civilização do vinho, sendo a sua maior propagadora.
  • 476 d.C. ― A queda do Império Romano e a expansão do cristianismo através da multiplicação dos mosteiros protegeram e aumentaram as áreas de vinhedos. Os abades encorajaram e desenvolveram a cultura das vinhas, quer em quantidade quer em qualidade.
  • 717 d.C. ― Com a invasão árabe, outra cultura e outra religião entraram na Península Ibérica, provocando a diminuição de seu consumo. O texto sagrado do Alcorão reprovava o consumo do vinho.
  • 800 d.C. – 1800 d.C. ― Apenas os nobres e os religiosos possuíam prensas em seus mosteiros e abadias; os restantes mortais esmagavam as uvas a pé, em lagares.
  • 1112 d.C. ― Bernard de Clairvaux fundou a Ordem de Cister, que impôs o seu dinamismo vitivinícola a toda a Europa ocidental. Rapidamente os cistercienses compraram, venderam ou trocaram propriedades por vinhedos em diversas zonas francesas.
  • 1139 d.C. ― Após vencer os mouros em Ourique, Afonso I foi proclamado rei de Portugal e encorajou os monges cistercienses a se instalarem no seu reino, oferecendo-lhes uma grande área vitícola em Alcobaça.
  • 1756 d.C. ― O vinho do Porto era falsificado em diversos países da Europa. O Marquês de Pombal criou a Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto-Douro para controlar a produção e o comércio deste vinho. Os negociantes não podiam exportar sem que o vinho fosse provado e aprovado pelos fiscais da Companhia.
  • 1845 – 1945 d.C. ― Aparecem novas doenças difíceis de combater, provocando grandes perdas na produção. O oidium em 1852, a Phylloxera vastatrix (ou simplesmente filoxera) em 1865 e o míldio em 1880. Constatou-se que na América do Norte, onde já se conhecia há muito tempo a primeira, as videiras eram resistentes a este inseto. No entanto, as cepas americanas não produziam uvas para vinho com a mesma qualidade das cepas européias. Descobriu-se posteriormente que, utilizando as cepas americanas como porta-enxertos das cepas européias, era possível obter videiras resistentes à filoxera, podendo ser produzidos vinhos de qualidade. A enxertia é atualmente uma prática corrente nas vinícolas.
  • 1862 d.C. ― Em 1862 o Imperador francês Louis-Napoleón solicitou a ajuda do pesquisador Louis Pasteur, para descobrir qual a razão do problema dos vinhos franceses, que azedavam ou ficavam avinagrados. Pasteur, além de descobrir o processo da fermentação, concluiu que as alterações nos vinhos eram devidas à ação de bactérias. Desenvolveu, então, um processo que impedia as reações dentro das garrafas, hoje denominado pasteurização.
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